segunda-feira, 14 de maio de 2012

Curiosidade não mata checador

O que fazem os profissionais de uma estirpe cada vez mais rara nas redações

POR DÉBORAH COUTINHO

Apurar é parte importante do trabalho de todo repórter, mas ter uma mãozinha de alguém especializado só na confirmação dos fatos faz toda a diferença. Esse é o trabalho do checador, uma figura que, apesar de ter sido presença obrigatória no passado, é hoje uma raridade nas redações. No Brasil, algumas publicações ainda mantêm o cargo, como as revistas Veja e Piauí. É na Piauí, aliás, que estagia há pouco menos de um ano a aluna Luiza Miguez, do quinto período da Eco.

Até pela falta de demanda, é difícil encontrar profissionais da área – que, por isso mesmo, costumam ser bem remunerados. Assim, quando o antigo checador deixou o cargo na Piauí em outubro do ano passado, Mario Sergio Conti, à época chefe de redação da revista, contratou Luiza, que recebeu um treinamento especial. Seu livro de cabeceira virou The Fact Checker’s Bible: a guide to getting it right (em português, algo como: A Bíblia do Checador de Fatos: um guia para acertar) de Sarah Harrison Smith, que já trabalhou na New Yorker e na The New York Times Magazine.

Na última semana de cada mês, quando ocorre o fechamento da edição, Luiza se dedica a verificar, em todas as matérias, a validade e a exatidão dos dados, eventos, números e até da grafia dos nomes de entrevistados. Suas grandes ferramentas são a internet e o dicionário. “Mas Wikipedia não é fonte para nada. É possível começar a pesquisa por lá, mas não dá para confiar”, alertou. “É melhor usar sites oficiais, mas mesmo assim é preciso cuidado. O ideal é ligar para a assessoria de imprensa e confirmar a informação.”

Um bom checador deve ter muita cultura geral e precisa ser ágil, criterioso e perfeccionista – além, é claro, de saber trabalhar sob pressão. “Tem que ser um bom jornalista”, resumiu Luiza, que adora ler as matérias que checa. “Dá muito trabalho, o prazo é curto, mas é muito interessante ver as escolhas do repórter.” E, se os repórteres tem que ser criteriosos durante a apuração, os checadores, ainda mais – até porque a responsabilidade por dados errados é deles, e uma checagem mal feita afeta a credibilidade do veículo. “O jornalismo tem suas falhas, quase toda matéria tem algum problema”, explicou a estudante. “E para toda matéria existe um leitor chato, que vai apontar os erros.”

O aumento da velocidade da veiculação de notícias trazido pelas novas tecnologias suscitou debates no campo da checagem. Em uma edição recente do Observatório da Imprensa, o jornalista Mário Magalhães, da Folha de S. Paulo, assinalou que, por um lado, com a pressa em dar o furo, os erros aumentaram. Mas, por outro, os desvios estão agora submetidos ao olhar atento de um público muito maior, que aponta os deslizes em redes sociais como o Twitter. “Como a internet permite o acesso a uma profusão de fontes”, escreveu, “haverá – já há – milhões de checadores de informações.”
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